EVANGELHO – Mc 6, 1-6
Naquele tempo: Jesus foi a Nazaré, sua terra, e seus discípulos o acompanharam.
Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Muitos que o escutavam ficavam admirados e diziam: “De onde recebeu ele tudo isto? Como conseguiu tanta sabedoria? E esses grandes milagres que são realizados por suas mãos?
Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?” E ficaram escandalizados por causa dele. Jesus lhes dizia: “Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares”. E ali não pôde fazer milagre algum. Apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos. E admirou-se com a falta de fé deles. Jesus percorria os povoados das redondezas, ensinando.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: se nos colocamos no lugar dos conterrâneos de Jesus, de fato é uma surpresa para eles que conviveram com Nosso Senhor na sua completa normalidade, de repente ouvir dizer que começou a fazer milagres, a curar muitos doentes. Nem se diga ao dizer na Sinagoga de Nazaré que era o próprio Messias esperado há tantos séculos. Mas Deus dá a graça para todos acreditarem nele quaisquer que sejam as circunstâncias.
Dando continuidade à nossa série sobre Jó, vamos esmiuçar agora o que se pode depreender deste livro um tanto misterioso.
Se começarmos olhando para os últimos capítulos, para as palavras de Deus a Jó, vemos que, em primeiro lugar, Deus considera o sofrimento como parte da vida. Deus não diz a Jó que ele não deveria estar sofrendo tudo o que sofreu. Diz que o mundo é complexo e que ele não tem condições de entender os mistérios de Deus, e um deles é o mistério do sofrimento. É como se Deus dissesse também que se o sofrimento deixasse de existir, a harmonia do universo se perderia. No meio de toda a complexidade do mundo, o sofrimento está aí como uma realidade.
Jó, então, fica sem ter um entendimento do sofrimento, sem entender até mesmo porque os justos sofrem. Deus, com sua resposta está lhe dizendo: “confie em mim, eu sei o que estou fazendo”.
Se Jesus não tivesse vindo à terra, o único entendimento que teríamos do sofrimento seria este. Porém, com a vinda de Nosso Senhor até nós, com sua pregação e com sua missão, passamos a entendê-lo com mais profundidade.
Em primeiro lugar o motivo de todo sofrimento é um só: o pecado. E isso fica muito claro quando sabemos que no Céu não haverá nenhum sofrimento, nenhuma dor, nenhuma tristeza, nenhuma doença. O Céu é a felicidade infinita para sempre, para sempre. Ou seja: o que Deus realmente quer para nós é esta felicidade infinita para sempre. De fato, se Adão e Eva não tivessem pecado, do paraíso terrestre passaríamos para o paraíso celeste sem a existência da dor e do sofrimento.
Tudo mudou a partir do pecado original. Com ele, o pecado entrou no mundo e todo pecado precisa de reparação. Quando eu ofendo alguém, eu preciso fazer algo para reparar esta ofensa. Vamos imaginar que nós somos uma bússola apontada para o norte que é o bem. Todo pecado, além de causar um mal a nós mesmos ou aos outros, avaria a bússola fazendo-a sair do eixo do bem. E como o pecado é dizer sim para algo que deveríamos dizer não, a melhor forma de fazer a bússola voltar para o norte é ir na contra mão do pecado, isto é, dizer não para coisas que poderíamos dizer sim. E o que é dizer não para coisas que poderíamos dizer sim? É fazer penitência.
O problema se torna maior quando vemos que todo pecado, além de poder causar um grave dano em nós e no próximo, é, antes de mais nada, uma ofensa a Deus, uma ofensa ao nosso Pai que nos criou para o bem e não para fazer o mal. E todo pecado contra Deus é gravíssimo, pois a dignidade de Deus é suma, é infinita. O que podemos fazer para reparar uma ofensa gravíssima? Nada. Mesmo que déssemos a vida em reparação por esta ofensa, a nossa vida é nada comparada com a de Deus.
O pecado, então, nos faz merecedores de toda pena, de todo sofrimento. Uma vez que ofendemos a Deus, tudo o que sofrermos nesta vida é nada em reparação pelo pecado. Graças a Deus, Jesus veio à terra para sofrer e morrer em nosso lugar pelos nossos pecados. E, como Jesus é Deus, qualquer sofrimento dele tem um valor infinito. E tudo isto Ele vai fazer por nós, para o Pai nos perdoar e podermos novamente viver com Ele para sempre no Céu.
Jesus vai saldar toda a dívida, mas não nos irá poupar do sofrimento. A grande notícia agora é que nosso sofrimento será reparador, não pelo seu valor em si, mas pela graça obtida por Cristo sofrendo e morrendo na Cruz.
Se Deus desse tudo de mão beijada, se não precisássemos sofrer para reparar o pecado, pioraríamos ainda mais. É como o filho que você não castiga pelo mal que ele fez. Se fazemos isto, ele se torna cada vez pior.
Vemos, então, pela gravidade do pecado, que merecemos muito sofrimento. Mas Deus sendo Pai, não faz com que nossa vida seja só sofrimento. Mas faz com que o sofrimento faça parte da nossa vida e, às vezes, este sofrimento é muito grande. Mas, reparando os nossos pecados, merecemos o Céu, a felicidade eterna e infinita.
E por que os justos sofrem? Primeiro que, como costumamos dizer, não há nenhum santo na terra. E o próprio santo, vendo suas faltas pequeníssimas, sente uma dor muito grande de ter ofendido a Deus e um grande desejo de reparar. Mas existem almas que agradam muito a Deus com o seu comportamento. E o que Deus faz com elas? O mesmo que Deus Pai fez com o Filho, com Jesus: pede-lhes que sofram não tanto pelos seus pecados, mas pelos pecados dos outros. Deus quer que o ajudemos a salvar o mundo e, por isso, as almas boas sofrem e, às vezes, sofrem muito mais do que os outros, pois Deus se apoia muito nelas e confia nelas.
Lição: espero ter dado uma boa luz no mistério do sofrimento e uma ideia fica muito clara por trás de tudo: Deus é muito bom e todo sofrimento é para o bem.
