EVANGELHO – Lc 9, 18-24
Certo dia:
Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele.
Então Jesus perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?”
Eles responderam: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou”.
Mas Jesus perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”.
Mas Jesus proibiu-lhes severamente que contassem isso a alguém.
E acrescentou: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”.
Depois Jesus disse a todos: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me.
Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: Onde ocorreu esta cena do Evangelho de hoje? Em Cesareia de Filipe. Esta cidade era a capital da tetrarquia governada naquela época por Filipe, filho de Herodes o Grande. A cidade estava situada a uns quarenta quilômetros ao norte de Cafarnaum, fora da Galileia. Originalmente a cidade se chamava Paneas, por ser um centro de culto do deus grego Pan. O imperador romano Augusto concedeu o governo da região a Herodes o Grande, rei da Judeia, que nessa cidade mandou construir um templo dedicado a César Augusto. O assim chamado “Templo de Augusto” foi construído com mármore branco sobre um penhasco de rocha basáltica, quer dizer, rocha muito sólida e escura. No alto da rocha aquele templo dominava sobre a cidade e sobre o campo, de modo que a vista deste impressionante templo bem pode ter servido ao Senhor Jesus como figura para falar com seus Apóstolos da “sua Igreja” que Ele ia construir sobre outra rocha: Simão, “Kefas”, “Pedra”, pois o Senhor se valia dessas imagens ou figuras da vida cotidiana para fazer suas comparações.
Herodes Filipe, filho de Herodes o Grande, decidiu rebatizar esta cidade depois de embelezá-la e engrandecê-la com novos edifícios. De Paneas passou a chamar-se Cesareia, em honra a César, o imperador romano. Na época de Jesus era conhecia como Cesareia de Filipe para distinguir-se da Cesareia marítima, porto localizado na costa da Palestina.
Assim, ao chegar à região da Cesareia de Filipe o Senhor inicia o diálogo que vai dar base ao ato institucional de sua Igreja, perguntando aos Apóstolos o que o povo dizia dele. Os discípulos tinham recolhido muitas opiniões: “Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; Outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”.
É evidente que Jesus não era João Batista, pelos próprios relatos evangélicos: ambos nasceram com poucos meses de diferença, Jesus foi batizado por João no Jordão, etc. Jesus não era João que tinha “ressuscitado” (ver Lc 9,7).
Seria Jesus a reencarnação de Elias? Segundo a Escritura e a crença dos judeus, Elias não tinha morrido, tinha sido levado ao Céu em um carro de fogo (Eclo 48,9), e dali voltaria para preparar a imediata aparição do Messias. (ver Mal 3,23; Mt 17,10-12) Quem pensava que Elias nunca tinha morrido, não podia acreditar que Jesus fosse uma reencarnação.
Jesus seria Jeremias, que tinha voltado para a vida, ou outro grande profeta de Israel? Tampouco. Evidentemente os grandes milagres que o Senhor realizava faziam pensar que se tratava de um grande profeta. Entretanto, embora todos concordem em pensar que Jesus era «um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo» (Lc 24,19), há confusão quanto a sua identidade: não sabem quem é verdadeiramente. Por isso, todos se equivocam, ninguém acerta. Jesus não é João que ressuscitou, não é Elias que retornou do Céu, não é Jeremias ou outro profeta que voltou para a vida. A resposta acertada deve ser procurada naqueles que o conhecem de perto, seus Apóstolos: “E vós, quem dizeis que eu sou?”
Perante a pergunta Pedro tomou a palavra e respondeu: “Tu és o Ungido (Messias)”. São Mateus coloca no seu Evangelho uma resposta mais completa: “Tu és o Ungido (Messias), o Filho de Deus vivo”. Pedro afirma que Jesus é mais que qualquer um dos grandes profetas, é maior que João Batista, que Elias, que Jeremias ou qualquer profeta. Pedro afirma que Jesus Cristo é o Ungido prometido por Deus para instaurar Seu Reino. Mas a resposta vai ainda mais além: Tu és “o Filho de Deus vivo.”
Tal resposta é de um alcance inusitado. Dizer que Jesus era “o Filho de Deus vivo”, implicava afirmar que participava da mesma natureza divina de seu Pai. A de Pedro é, portanto, a primeira profissão de fé na divindade de Jesus Cristo.
Como Pedro chega ao conhecimento da identidade íntima de Jesus Cristo? “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu”. Esta intuição e conhecimento íntimo da identidade divina de Jesus Cristo não lhe vem de “nenhum ser humano”, foi-lhe revelada Por Deus. “Ser humano” é a tradução litúrgica do que literalmente se traduz como “carne e sangue”, um hebraísmo para expressar a totalidade da pessoa, o ser humano. Nenhuma pessoa humana pode ter revelado a Pedro o que só podia conhecer mediante a participação do conhecimento que o Pai celestial tem de seu Filho. Pois «ninguém conhece o Filho, senão o Pai» (Mt 11,27) e só pode conhecer aquele Filho quem o Pai o queira revelar (ver Mt 11,25). O Senhor Jesus, com tal afirmação, deixa bem claro que a razão humana não pode alcançar por si mesma esse conhecimento. Só mediante a Revelação é possível reconhecer em Jesus Cristo o Filho de Deus, sua natureza divina.
Lição: Também hoje o Senhor faz a nós a mesma pergunta que então fez a seus Apóstolos: E tu, quem dizes que eu sou? O que você responderia?
Talvez a minha resposta seja a que deu Pedro: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”, tu és O Salvador do mundo, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, o Verbo eterno que por obra do Espírito Santo se encarnou e nasceu da Virgem Maria para nossa reconciliação. Se é esta, minha vida não deveria ser muito diferente em vários aspectos se verdadeiramente eu acreditasse que Jesus Cristo é o Filho de Deus? Não deveria ser Ele a pessoa mais importante em minha vida, acima de qualquer outra pessoa, inclusive daqueles a quem mais amo? Esta convicção não deveria refletir-se em um desejo de conhecê-lo mais a cada dia, de conhecer seus ensinamentos, de viver de acordo com seus ensinamentos, de crescer na amizade com Ele através da oração perseverante, de procurar dar-lhe graças e renovar minhas forças na Comunhão com Ele na Missa de cada Domingo? Não deveria dar à Missa dominical a centralidade absoluta, sabendo que Ele é o fundamento de minha vida, a rocha sólida sobre a qual eu e minha família encontraremos a consistência, a fonte do amor verdadeiro e fiel? Pensemos nisso.