Olhar para Jesus: o Evangelho de hoje traz-nos as palavras de um homem pagão, centurião do exército romano. Suas palavras foram incluídas na missa e têm servido de preparação imediata para a comunhão mudando apenas o final: Senhor, eu não sou digno de que entres em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo.
Os chefes dos judeus da cidade tinham pedido a Jesus que aliviasse a pena desse pagão, curando-lhe um servo a quem estimava muito e que estava à beira da morte.
Desejavam que lhe fosse feito esse favor porque lhes havia construído uma sinagoga.
Quando Jesus estava perto da casa, o centurião pronunciou essas palavras adaptando apenas o finalzinho: Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo.
Que estas palavras nos ajudem a prepararmos a comunhão não só durante a missa, mas também antes dela. As comunhões fervorosas no tempo do advento vão nos preparar para recebermos a Jesus.
Continuando a série sobre Jesus, na semana passada li uma carta imaginária de São João Batista aos seus discípulos, falando de Jesus, que está no livro “Cartas dos amigos de Cristo”. Hoje gostaria de ler a carta imaginada pelo autor da samaritana ao último homem que esteve com ela. Como sabemos, a samaritana é aquela que Jesus irá encontrar no poço e começará a conversar com ela. Ela estava no quinto marido e Jesus a irá converter. Ela vai escrever a este último homem contando o seu encontro com Cristo e a sua conversão. É uma carta muito bonita!
* * *
Não me esperes. Não penses que te abandono por uma nova aventura, ainda que esta seja talvez a aventura com que sonhei durante toda a minha vida.
Sei que tu e os outros zombais de mim, prevendo maliciosamente o final de sempre. Mas isso não acontecerá, pois eu me converti do fundo do meu coração. Jesus me disse que uma fonte de água viva brotaria das minhas entranhas…, e é verdade. Essa água misteriosa limpou meus olhos e agora vejo que a minha vida foi um poço vazio que tentava preenchê-lo, mas que continuava vazio.
Ele me pediu que lhe desse água; nós dois estávamos sedentos. No início, pensei que aquele pedido era porque Ele estava com uma grande sede. Mas imediatamente pressenti algo muito diferente, porque não só não tomou a água como acabou por oferecer-me uma água que dizia que era viva…
Não penso voltar para tua casa, nem mesmo para recolher as minhas roupas. Encontrei finalmente o poço, as águas que saciam a sede para sempre: é Jesus. Mas não tentes ir até Ele com alguma garrafa vazia; esta água da qual estou falando entra pelo coração e o coração precisa estar aberto para ouvi-lo e deixar esta água viva penetrar até o fundo da nossa alma.
Comecei a abrir o meu coração para Ele, pois notei que me olhava nos olhos e me ouvia como nunca alguém me olhou nos olhos e me ouviu. Ele nos ouve e não nos pede nada. Na realidade, pede-nos tudo, me entendes? Se o ouvisses como eu, compreenderias o vazio e a imundície que há em tantas vidas. Dizem que isto é consequência do egoísmo: um amor de mentira, ou uma mentira com cara de amor.
Talvez estejas pensando que o Nazareno me enlouqueceu. Não, não me enlouqueceu! Talvez sim, mas com outra loucura.
Estou vivendo com um grupo de mulheres entre as quais está a sua Mãe, que se chama Maria. Os olhos dessa mulher são tão profundos, tão puros e brilhantes que tornam transparente toda a podridão e toda a lama que possa haver na nossa vida. Com Ela, junto dEla, tudo é luz, como se um fogo purificador, muito suave e muito profundo, derretesse toda a sujeira e só restasse o ouro brilhante; todas as impurezas do amor desaparecem na sua presença.
Vou agora compreendendo aquele primeiro preceito da Lei de Deus: Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua força, com todo o teu entendimento e, também, o segundo que, conforme disse Jesus a um doutor da Lei, é semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo…
Tu és o meu próximo, e por isso te escrevo. Faço-o para dizer-te — ainda que me consideres louca — que te amo, que vos amo a todos, mas de uma forma nova, como me amo a mim mesma, com desejos de purificação, de arrependimento, de sacrifício, de serviço aos outros… Aquilo que antes existia entre nós não era amor.
Desejo que encontres o amor. O Amor é Ele e nEle se encerram e se realizam todos os amores.
Se visses a sua Mãe, compreenderias para sempre o que é uma mulher e entenderias para que Deus nos fez. Vou compreendendo alguma coisa, e esforço-me por olhar os outros e olhar-me a mim mesma como Ela nos olha. Por favor, passe a nos olhar assim.
Até o Céu, se Deus quiser!
Lição: não é verdade que a samaritana poderia escrever perfeitamente estas palavras?! O encontro com Jesus a transformou! Realmente aos olhos daquele último homem seria uma louca, mas uma louca, e isso nós entendemos, e não talvez aquele homem, com uma santa loucura, a loucura daqueles que encontram Cristo e mergulham na sua vida. Saibamos abrir o nosso coração a Jesus e encontraremos esta água viva que transforma nossas vidas.