EVANGELHO – Lc 11, 42-46
Naquele tempo, disse o Senhor: Aí de vós, fariseus, porque pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as outras ervas, mas deixais de lado a justiça e o amor de Deus. Vós deveríeis praticar isso, sem deixar de lado aquilo. Aí de vós, fariseus, porque gostais do lugar de honra nas sinagogas, e de serdes cumprimentados nas praças públicas. Aí de vós, porque sois como túmulos que não se veem, sobre os quais os homens andam sem saber”. Um mestre da Lei tomou a palavra e disse: “Mestre, falando assim, insultas-nos também a nós!” Jesus respondeu: “Ai de vós também, mestres da Lei, porque colocais sobre os homens cargas insuportáveis, e vós mesmos não tocais nessas cargas, nem com um só dedo.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: Jesus no Evangelho de hoje desmarcara várias atitudes hipócritas dos fariseus como pagar o dízimo da hortelã, uma minúcia, mas deixar de lado a justiça e o amor de Deus; gostar dos lugares de honra, ao invés de serem humildes; falar para os outros para cumprirem os mandamentos e eles não o cumprirem.
Será que também tenho algum traço de hipocrisia? Mostro ser uma pessoa por fora e sou outra por dentro? Luto para ser uma pessoa de uma só peça, perfeitamente coerente com o que digo e o meu comportamento? Sou o mesmo em todos os ambientes ou me comporto de um jeito com uns e com os outros de outro jeito? Pensemos nisso!
Continuando nossa série das quartas-feiras sobre a doutrina católica, na semana passada começamos a estudar o pecado. Uma das coisas mais importantes que vimos foi a malícia do pecado. Hoje vamos falar um pouco mais sobre isso.
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O pecado é, numa palavra, dizer não aos mandamentos de Deus. Para entender mais a fundo a sua malícia, precisamos fazer estas duas distinções: o pecado é dizer não a Deus e dizer não aos mandamentos.
1. Dizer não a Deus
a) Se digo não a Deus, estou desobedecendo a Deus. E desobedecer a Deus é afrontar a Deus, ir contra Deus, a quem devo todo o respeito por dever tudo a Ele, começando pela existência. E isso, em si, já é um grande pecado.
Porém, quando dizemos não a Deus, estamos dizendo sim para nós mesmos e isto gera inúmeros males:
b) Leva-nos a fazer de nós um deus, servindo a nós e não a Deus: e servindo a nós tudo o que existe, Deus, os outros, o mundo, será um instrumento para os nossos interesses, não importando se faço o mal aos outros ou não, se os mato, se prejudico alguém, se destruo a vida de alguém. Não importa, o que importa é ir atrás dos meus interesses. Aqui está o princípio de todo mal que o ser humano faz ao próximo: servir a si e aos seus interesses e não a Deus, que é Amor.
c) Leva-nos a preferir a nós ao invés de Deus: preferimos a nós ao invés de Deus, colocando-nos acima dele: primeiro nós, depois Deus.
d) Leva-nos a usar as realidades que Deus criou para o nosso próprio proveito: usamos as realidades que Deus criou para satisfazer as nossas paixões, especialmente as paixões do orgulho e da sensualidade. As usamos para fazê-las escravas das nossas ambições.
e) Leva-nos a usar as forças físicas e morais que Deus nos deu para a nossa glória: as forças físicas e morais foram-nos dadas para vivermos só para Deus e para a sua glória, e nós, ao contrário, as usamos para o serviço dos nossos objetivos pessoais, contrariando a vontade de Deus e os seus preceitos. Referimos estas forças a nós e não a Deus; procuramos a nossa glória e a nossa vontade em vez da dEle.
f) Leva-nos a colocar acima de Deus um ídolo: pomos junto a Deus, mesmo acima de Deus, um ídolo: o ídolo do nosso eu, do dinheiro, dos interesses, do trabalho, da honra, o ídolo de um prazer, de uma amizade, de um gozo vão. Preferimos uma criatura ao Criador, colocando-a acima dele. É como se disséssemos: «você é o meu tudo, você é o meu deus, eu vivo para você». Neste sentido, diz o profeta Isaías: «O meu povo trocou a sua glória por um ídolo. Pasmai, ó céus, com isto, e horrorizai-vos, diz o Senhor» (Jer, 2, 10-12).
g) Leva-nos a sermos ingratos a Deus: Deus nos dá tudo, a nossa vida, nossas qualidades, nossos dons, todas as suas graças ao longo da nossa vida, dando saúde, protegendo-nos contra muitos males, dando oportunidades incríveis, pessoas que nos amam, que cuidam de nós, além disso nos dá toda a maravilha da criação e inúmeras coisas mais e preferimos a nós ao invés dEle.
h) Leva-nos a sermos ingratos com toda a sua obra da Redenção e com seus dons sobrenaturais e nos leva a esterilizá-la também: com o seu amor misericordioso, veio à terra, morreu por nós na Cruz livrando-nos da condenação eterna e nos deu todos os sacramentos e dons do Espírito Santo para seguirmos a estrada do bem, da salvação e, no entanto, desprezamos tudo isso. É o pecado o que esteriliza em nós a obra da Redenção, que impede que cresça e prospere na alma a boa semente das inspirações e dos estímulos da graça: tanto o pecado grave como o venial. É verdade que, enquanto cometermos somente pecados veniais, estamos na graça de Deus, e seguimos pelo reto caminho, mas as pequenas infidelidades e as numerosas faltas impedem-nos de andar com desembaraço: a vida espiritual não prospera, as graças não produzem os efeitos desejados. Somos o terreno pedregoso em que a boa semente da graça não pode fixar as suas raízes. E assim esterilizamos a obra da Redenção em nós e nos outros.
i) Leva-nos a ir contra Cristo: o pecado é dirigido contra Cristo, Senhor e Salvador. Para nos arrebatar do pecado e da miséria, baixou à terra o Filho de Deus, que veio para «salvar o que estava perdido» (Mt 18, 11). Como nos ama, quanto sacrifício desde o nascimento até à Cruz! Por nós, por cada um de nós, sofreu tudo isso, somente para obter a graça da adoção divina e as incontáveis graças de que vamos precisar. Nós, em recompensa, pecamos e desprezamos todos os seus sacrifícios. E a dor mais aguda da agonia no horto do Getsêmani foi esta; Ele previu, com clarividência divina, a ingratidão com que lhe iríamos corresponder: «Ó meu povo, que que te fiz eu, em que te contristei? Responde-me! Porque te libertei da escravidão do Egito, ofereceste-me uma cruz; porque te conduzi através do deserto, alimentando-te com o maná celestial (dando-te uma pátria onde corre o leite e o mel) preparaste a cruz para o teu Salvador? Eu te cumulei com o meu poder, e tu, em recompensa, cravaste-me na cruz. Ó meu povo, que que te fiz eu, em que te contristei? Responde-me! (Impropérios da Sexta-Feira Santa).
j) Leva-nos a causar um dano em nós mesmos: o pecado prejudica-nos também a nós próprios, é a maior desgraça que nos pode suceder. Podendo conviver com Deus aqui na terra, ao cometer um pecado grave cortamos a união com Ele que é fonte infinita de todas as forças, da alegria, da paz, do amor; que é fonte da vida plena, infinita. Das alturas da posse de Deus, precipitamo-nos no abismo do seu afastamento. E, se permanecermos assim, a morte cortará a última fibra que nos mantém ainda unidos à vida, para cairmos para toda a eternidade nas trevas, no inferno, onde haverá «choro e ranger de dentes», no eterno afastamento de Deus, de todo o bem, de toda a felicidade e de toda a alegria. Onde só haverá infelicidade, ódio e amargor por toda a eternidade.
2. Dizer não aos mandamentos
Não poderíamos dizer não aos mandamentos, pois a finalidade de cada um deles, como Deus é Amor, é que reine o amor na terra e, de modo pleno, no Céu. E reinando o amor, reine a felicidade e a paz.
Porém queremos saber mais do que Deus e dizemos não a algum deles ou a vários ou a todos.
Para ver a malícia de dizer não ou desprezar algum mandamento, basta fazer o exercício mental de ver como desobedecer a qualquer um deles não leva ao bem, ao amor, mas ao mal.
Lição: agora que entendemos melhor a grande malícia, a grande maldade do pecado, procuremos lutar contra ele com todas as forças.