EVANGELHO – Jo 3, 13-17
Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: “Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: Como dissemos, hoje é a festa da Exaltação da Santa Cruz. Alguém poderia dizer: como assim, exaltação da Santa Cruz, exaltar a Cruz? A cruz nem sequer deveria existir, muito menos exaltar. Será que a Igreja não está errada em exaltar a Cruz?
Podemos falar muitas e muitas coisas sobre este tema. Hoje gostaria de citar um exemplo para vermos como a cruz é uma bênção de Deus.
Um tempo atrás, um amigo comentou algo comigo que me deixou bastante preocupado. Ele tinha acabado de ser acusado por uma juíza de estar envolvido num esquema de corrupção junto com outros empresários.
Fiquei muito assustado, não pelo suposto envolvimento no esquema de corrupção, pois não só eu tinha certeza de que ele nunca se envolveria nisso como ele mesmo, ao dar a notícia, me explicou que a juíza havia feito essa acusação baseada numa hipótese, sem ter nenhuma prova. O que me preocupou é que isso iria desencadear um grande sofrimento para ele, pois trata-se de uma pessoa corretíssima, e não haveria cruz pior para ele do que ser acusado de corrupção, o que mancharia a sua reputação entre colegas, amigos e empresários.
De fato, a sua primeira reação foi de um incrível afundamento. Ele ficou como que em estado de choque, sem conseguir se alimentar por vários dias. Logo em seguida, telefonaram-lhe mandando deixar a diretoria de uma área em um clube bem conhecido que ele frequentava desde menino, o que o levou a afundar-se ainda mais.
Por esse momento de turbulência, fiquei sem conseguir falar com ele pessoalmente cerca de quarenta e cinco dias. Quando nos encontramos, já estava preparado para ajudá-lo a sair da lona onde se encontrava. Ele começou dizendo que esta cruz está sendo uma verdadeira bênção na sua vida. Fiquei surpreso. Não esperava, mesmo sabendo da sua proximidade com Deus, que chegasse a esse ponto tão rápido.
Aí começou a descrever o que aconteceu naqueles quarenta e cinco dias. Falou do seu afundamento total nos primeiros dias, logo após a notícia. Aí passou a me dizer que ele é muito abençoado pela família que tem, porque todos o apoiaram muitíssimo: seus irmãos, seus pais e principalmente sua esposa. Relatou como a sua esposa se revelou uma pessoa extremamente forte e com muito amor. Com a ajuda dos familiares e da oração, foi pouco a pouco se estabilizando emocionalmente, passando, como é lógico, por altos e baixos.
Um dia, rezando no seu quarto, levantou os olhos e viu na sua estante um livro que nunca havia lido com o seguinte título: “O cristão e a dor”, de Richard Graf. Começou a folheá-lo, e tudo o que ia lendo ia tocando profundamente o seu coração. Ficou impressionado ao ver como o autor conhece a fundo a situação de quem passa por uma dor muito grande. Uma das partes que mais o tocaram foi quando o autor disse que Deus permite a cruz pois ela é uma fonte de bênçãos. Essas palavras o atingiram especialmente. Até aquele momento não estava vendo a cruz assim. Ele a estava vendo como algo tremendo que não devia estar acontecendo. Nessa hora, foi como um ressurgir, e tudo começou a fazer sentido. Começou a ver que Deus é bom, que aquilo não era um castigo, que por trás daquilo, apesar do que estava sofrendo, havia a mão de Deus.
A partir daí, apoiado na ideia de que a cruz é uma bênção, fez uma revisão e descobriu inúmeras bênçãos que começaram a vir desde o momento em que fora acusado pela juíza:
– o apoio da sua família;
– a união maior com sua esposa e filhos;
– aproximar-se mais de Deus e crescer na intimidade com Ele;
– conhecer o livro “O cristão e a dor”, que lhe fez tanto bem;
– enxergar melhor a importância de dedicar tempo à família, que é o seu maior tesouro na terra.
Foi aí que lhe perguntei sobre o clube, se aquilo não estava sendo muito doído para ele, já que tinha toda uma história de vida em função dele, desde que começou, desde pequeno, a praticar esporte lá… Então me disse: “Padre Paulo, foi outra bênção. Estava dedicando muito tempo a ele, e as várias pessoas que ficavam do meu lado na diretoria não me faziam bem. Foi uma bênção ter saído da diretoria do clube!”.
Histórias como essa eu tenho ouvido continuamente. É que, de fato, a cruz é uma fonte de bênçãos!!! Faz parte da lógica de Deus. Ele a permite só por um motivo: porque dela vêm inúmeros bens. Deus é como um pai que muitas vezes tira o algodão-doce do filho pensando no seu próprio bem. A criança pode não entender na hora, mas seu pai sabe bem a importância daquilo e todos os bens que virão de uma privação, de uma dor, de uma perda.
Pensemos nisso toda vez que estivermos carregando uma cruz.