EVANGELHO – Lc 14, 1-6
Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles o observavam. Diante de Jesus, havia um hidrópico.
Tomando a palavra, Jesus falou aos mestres da Lei e aos fariseus: “A Lei permite curar em dia de sábado, ou não? Mas eles ficaram em silêncio. Então Jesus tomou o homem pela mão, curou-o e despediu-o. Depois lhes disse: “Se algum de vós tem um filho ou um boi que caiu num poço, não o tira logo, mesmo em dia de sábado?”
E eles não foram capazes de responder a isso.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: Jesus vê diante de si um homem com uma doença e o cura em dia de sábado. Vemos como muitas vezes as pessoas não falam nada e Jesus toma a iniciativa para curar um doente como é o caso do Evangelho de hoje. Não há ninguém que se compadeça mais da nossa doença do que Jesus. Na hora da dor, saibamos encontrar consolo conversando com Nosso Senhor e pedindo a sua ajuda.
Dando continuidade à nossa reflexão sobre a virtude da admiração, falaremos hoje dos defeitos do nosso olhar que comprometem enormemente a admiração pelos outros.
Os defeitos que nosso olhar pode ter são dois principalmente: o orgulho e o egoísmo. São os defeitos e, concretamente estes, os principais causadores da perda de admiração pelos outros. Por isso, devemos examinar em primeiro lugar se é por causa eles que estamos perdendo ou perdemos a admiração por alguém.
Comecemos pelo orgulho. Uma pessoa levada pelo orgulho, não só vai perdendo a admiração pelos outros, como também cai na decepção e no desprezo.
Quem mostra isso com muita clareza é o Padre Francisco Faus relacionando o orgulho com o desprezo. Diz o Padre Francisco:
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O orgulhoso, ao julgar-se perfeito e gabar-se das suas pretensas perfeições, considera inferiores aqueles que, em seu conceito, não as possuem: “Não sou como os outros homens”, costuma dizer, inchado de autocomplacência.
a) é próprio do orgulhoso manifestar uma irritada impaciência com os defeitos do próximo.
Tal é o caso, por exemplo, do homem que se aborrece porque a mulher, o colega ou os filhos são desordenados, ou distraídos e lerdos, ou pouco inteligentes, inoportunos, teimosos, rebeldes… Admirando-se a si mesmo como a um “deus”, julga intolerável que os demais não sejam “à sua imagem e semelhança”. Por isso, está continuamente jogando-lhes na cara, de modo humilhante, os defeitos que jamais consegue compreender: “Você nunca faz nada direito”, “parece mentira que não tenha um pingo de sensatez”, “não há quem o aguente”…
b) é próprio do orgulhoso cansar-se com os defeitos do próximo
Prolongando-se a convivência do orgulhoso com o próximo, chegará uma hora em que se cansará de “ajudá-lo”, de “alertá-lo”, segundo o seu olhar míope e começará a dizer frases como estas: “já chega”, “não dá mais”, “desisto de tentar” etc.
c) é próprio do orgulhoso se decepcionar com as pessoas e cair no desprezo
Assim um a um vai entrando no seu rol da decepção terminando por desprezá-los.
Mas, vejamos com calma. Por que, pensando na decepção, nos sentimos decepcionados com alguém?
Será, porventura, porque o amamos? Certamente não.
É porque nos amamos demasiado a nós mesmos, porque nos adoramos como a um pequeno ídolo, e por isso exigimos dos outros as qualidades que nos satisfazem e que “servem” a nossa satisfação.
Há, por exemplo, pais que se sentem decepcionados com os seus filhos porque não conseguiram moldá-los como argila, de acordo com o modelo que idealizaram para a sua satisfação pessoal. Tinham feito, como um cineasta, o “roteiro” da vida do “filho ideal”, prevendo todas as etapas e calculando todos os detalhes. E eis que os filhos, usando da sua liberdade – e, às vezes, secundando o plano que Deus preparou para eles – rasgam o “roteiro” do pai (vai seguir a mesma carreira que eu, vai trabalhar comigo, vai ser rico e importante, etc.) e traçam o seu próprio caminho. Nessa altura, o pai sente que foram cortados os fios com que pretendia comandar os filhos como marionetes, e mergulha na decepção. Mesmo as mais belas opções de vida feitas pelos filhos, se estão à margem do “roteiro” paterno – por exemplo, escolher uma profissão menos brilhante mas mais aberta ao serviço do próximo, abraçar ideais de pesquisa científica ou de arte –, parecem-lhe tolices, idealismos utópicos que vão estragar-lhes a vida. Na realidade, estão estragando apenas os sonhos egoístas do pai.
Também nos cansamos e decepcionamos facilmente com os outros porque não corrigem os seus defeitos – defeitos reais, falhas objetivas – com a rapidez que nós desejaríamos. Uma e outra vez reincidem nas mesmas faltas, continuam com as mesmas reações, mantêm inalteradas as arestas do seu caráter. Então, desanimados, só sabemos recriminar, repetindo como um disco rachado: ele fala demais, esquece tudo, chega atrasado, não me escuta, gasta sem controle, etc., etc. E, ao pensarmos nesses defeitos sempre reiterados, sentimo-nos com o direito de dizer: “Isso cansa”. Daí a desistir de compreender e ajudar há só um passo, o passo que o “cansado” acaba dando quando se rende à decepção e conclui: “Não tem conserto”. Extinguiu-se então a confiança e instalou-se no coração o desprezo.
Lição: muitas vezes colocamos a culpa nos outros para explicar porque não temos mais admiração por eles. No entanto, há um monstro destruidor da admiração pelos outros que está dentro de nós e tem dois tentáculos: o orgulho e o egoísmo. Saibamos lutar contra eles para que vença em nossos corações o amor e, consequentemente, a admiração que faz um bem tão grande para quem é o seu objeto como para nós mesmos.