CARIDADE (3): O ENSINAMENTO DE CRISTO A SEU RESPEITO (2)

EVANGELHO – Lc 7, 11-17

Naquele tempo: Jesus dirigiu-se a uma cidade chamada Naim. Com ele iam seus discípulos e uma grande multidão. Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único; e sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade a acompanhava. Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: “Não chore!” Aproximou-se, tocou o caixão, e os que o carregavam pararam.
Então, Jesus disse: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te!” O que estava morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe. Todos ficaram com muito medo e glorificavam a Deus, dizendo: “Um grande profeta apareceu entre nós e Deus veio visitar o seu povo”. E a notícia do fato espalhou-se pela Judeia inteira, e por toda a redondeza.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
no Evangelho de hoje vemos um pouquinho do tamanho do amor de Cristo. Ao ver uma viúva em procissão para enterrar o seu filho único é tomado de dor e compaixão e se aproxima para ressuscitar este rapaz, sem que ninguém o peça.

Assim é Jesus! Como bom Pai, sofre ao ver todos as nossas dores e sofrimentos. E vem em nosso socorro. Não há nada que nos aconteça que Ele fique indiferente. Muito pelo contrário. Que a consciência deste amor de Cristo nos dê uma grande paz, pensando que nunca estamos sós, mas na companhia deste Deus tão bom.

Como hoje é terça-feira, continuemos a falar sobre a virtude da caridade. Na última vez, dissemos que Cristo para assentar as bases desta virtude, revolucionou o conceito de dignidade. A dignidade de uma pessoa não é fruto de algo externo, da sua condição social, financeira, mas é decorrência de sermos filhos de Deus. Todos o somos e, portanto, todos temos a mesma dignidade que é, por sua vez, sagrada.

Se Jesus tivesse revolucionado apenas o conceito de dignidade, isso já seria suficiente para a sua obra ser considerada fora do comum. E se nós vivêssemos para conseguir que todas as pessoas do mundo fossem tratadas com essa alta dignidade, nossa vida se encheria de uma profunda felicidade, nossos olhos brilhariam até não poder mais.

No entanto, Cristo foi além: revolucionou também o conceito de amor. Pelo conceito de dignidade, todas as pessoas devem ser respeitadas como uma joia preciosa, sagrada. Mas respeitar, que já é um grande passo e pressupõe o amor, ainda não é amar. O amor está em um nível superior.

Até a época de Cristo o conceito de amor, em todos os povos, praticamente não existia. Qualquer situação era ocasião para a vingança, o ódio e até para o homicídio. Se no próprio povo judeu, que foi sendo formado por Deus ao longo de séculos, a lei que viviam na altura da vinda de Cristo à terra era a lei do talião — que diz “olho por olho, dente por dente”, ou seja, pagar na mesma moeda o que os outros fazem conosco —, imaginem como viviam os outros povos. A Grécia, graças aos seus filósofos, havia avançado um pouco mais no conceito de amor, mas ainda estava muito longe de praticá-lo.

Além do conceito de dignidade, Cristo começa a assentar as bases do amor com estas célebres palavras: Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus (João 15, 13). Com essas palavras, Cristo nos mostra, em primeiro lugar, que amar não é só respeitar, respeitar o próximo, seja ele quem for, rico ou pobre, bom ou pecador, considerando-o com um valor sagrado, mas dar-se a ele. Jesus ensina então que o amor é uma doação, uma entrega. E a perfeição do amor é dar tudo, ou seja, dar a vida pelo próximo. E para quê? Para lhe fazer o bem, para lhe fazer feliz. Então dar tudo é dar o nosso tempo, dar a nossa alegria, dar o nosso coração, dar a nossa inteligência, dar a nossa imaginação, dar os nossos afetos, dar o nosso perdão, dar a nossa compreensão para lhe fazer o bem, para lhe fazer feliz. Foi o que Cristo fez por nós morrendo na cruz: deu todo o seu ser por nós. Por isso, no alto da Cruz, Ele disse: Tudo está consumado (João 19, 30). Isto é: entreguei tudo, dei tudo pelos meus filhos.

Dar a vida por alguém que não fosse da própria família era algo impensável. Jesus estende essa doação total, cabal, a todas as pessoas, pois todos somos irmãos, filhos do mesmo Pai, Deus. E diz também que esta doação deve ser dada – e isso é o mais incrível – àqueles que nos fazem o mal, pois mesmo aquele que nos faz o mal deve ser respeitado e amado, pois é filho de Deus, é nosso irmão. Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente (…) Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau (…) Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu (Mateus 5, 38-43).

Com estas palavras, Jesus Cristo eleva o amor à máxima condição: uma entrega total ao próximo, seja ele benfeitor ou malfeitor, pois quem ama tem a esperança de que o malfeitor passe a ser benfeitor. Foi também o que Cristo fez por nós, dando a vida tanto para os justos como para os injustos. Este conceito de amor é totalmente revolucionário e abriu o caminho para uma transformação impensável da humanidade.

Lição: a caridade é, portanto, não só respeitar o próximo, mas dar a vida por ele para lhe fazer o bem, para lhe fazer feliz, mesmo que ele seja um malfeitor, pois é meu irmão e filho de Deus. Procuremos refletir nestas palavras nos próximos dias e ver se temos vivido a caridade como Cristo nos ensinou.

CARIDADE (3): O ENSINAMENTO DE CRISTO A SEU RESPEITO (2)

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