CARIDADE (18): COMPREENDER (3)

EVANGELHO – Mt 7, 6.12-14

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Não deis aos cães as coisas santas, nem atireis vossas pérolas aos porcos; para que eles não as pisem com os pés e, voltando-se contra vós, vos despedacem. Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. Nisto consiste a Lei e os Profetas. Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso é o caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram por ele! Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida! E são poucos os que o encontram!
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
o Evangelho de hoje nos permite refletir em três realidades: não jogar pérolas aos porcos, fazer aos outros o que queremos que os outros façam a nós e a porta estreita para entrar no Céu. Gostaria de falar sobre o primeiro ensinamento de Jesus neste Evangelho: não jogar pérolas aos porcos.

A frase completa de Jesus é esta: “Não deis aos cães as coisas santas, nem atireis vossas pérolas aos porcos”. O que Jesus está querendo dizer com isto? Quer dizer que não adianta, por exemplo, falar de Deus para pessoas que não querem ouvir, que estão fechadas para Ele. Deus é santo, é uma pérola preciosíssima, mas não adianta falar dele para quem está fechado para Ele. O que podemos fazer quando nos encontramos com esta situação? Rezar para estas pessoas para que um dia se abram para este tesouro imenso que é Deus. Eu penso que, como Deus ouve todas as nossas orações, a cada oração que fizermos, ela estará sendo represada e quando esta pessoa que está fechada para Deus der um mínimo de abertura, toda esta água represada entrará em seu coração. Nunca pensar, então, que nossas orações são em vão.

Continuando a nossa série sobre as virtudes da caridade, paramos na reflexão na virtude da compreensão. Dissemos que para entender o que é esta virtude, precisamos em primeiro lugar olhar para Cristo. E dissemos que Cristo manifestou a compreensão em quatro situações: com pessoas próximas que lhe fizeram o mal, com pessoas próximas que lhe fizeram um grande mal, com pessoas mais distantes que lhe fizeram o mal e com pessoas mais distantes que lhe fizeram um grande mal. Vimos na última vez a segunda situação, pessoas próximas que lhe fizeram um grande mal, e como Cristo reagiu. O exemplo que citamos foi a traição de Judas. E a segunda lição que tiramos foi que sabemos compreender quando vemos o próximo como filho de Deus e, portanto, nosso irmão.

Vamos considerar hoje a terceira situação em que Cristo manifestou a compreensão: com pessoas distantes que lhe fizeram um mal ou lhe ofenderam. Aqui um exemplo é o da mulher adúltera.

Quem nos relata este episódio é São João no seu capítulo 8 do seu Evangelho. Vejamos:

Jesus foi para o Monte das Oliveiras. De madrugada, voltou ao templo, e todo o povo se reuniu ao redor dele. Sentando-se, começou a ensiná-los. Os escribas e os fariseus trouxeram uma mulher apanhada em adultério. Colocando-a no meio, disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi flagrada cometendo adultério. Moisés, na Lei, nos mandou apedrejar tais mulheres. E tu, que dizes?” Eles perguntavam isso para experimentá-lo e ter motivo para acusá-lo. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever no chão, com o dedo. Como insistissem em perguntar, Jesus ergueu-se e disse: “Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!” Inclinando-se de novo, continuou a escrever no chão. Ouvindo isso, foram saindo um por um, a começar pelos mais velhos. Jesus ficou sozinho com a mulher que estava no meio, em pé. Ele levantou-se e disse: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” Ela respondeu: “Ninguém, Senhor!” Jesus, então, lhe disse: “Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais”.

Se nos colocamos no lugar de Jesus, vemos que o maior mal que esta mulher cometeu foi ter ofendido gravemente o seu pai, que é Deus. A grande vítima do pecado é o próprio Deus. Todos os pais sofrem muito quando veem um filho que faz algo que será destruidor para ele, mesmo que não faça o mal para outra pessoa. Não há dúvida que sofrerá mais ainda se sua ação provocou um mal a ele e a outra pessoa também. Deus, que é Pai, também sofre ao ver um filho seu fazendo um mal, quer para si, como para outros. E, como o amor de Deus por nós é infinito, seu sofrimento é infinito.

Se Deus, ou Jesus, fosse olhar para si, para o seu sofrimento, dificilmente compreenderia os nossos pecados e, no caso que estamos vendo, o pecado da mulher adúltera. Mas Deus é humilde: não vive voltado para si, mas para nós.

Aqui encontramos uma realidade que dificulta e torna até impossível a compreensão: o orgulho. A pessoa que olha muito para si, que vê mais a sua dor, terá muita dificuldade de compreender alguma pessoa que lhe tenha ofendido. Mesmo que esta pessoa não ofenda à ela, mas a uma terceira pessoa, se estiver imbuída de orgulho, de superioridade, não vai compreendê-la, pois a verá com desprezo.

Só as pessoas humildes sabem compreender. Pois o humilde também se vê como pouca coisa e capaz de todos os erros e barbaridades se Deus não lhe ajuda. O humilde não só não olha para si como se vê tão pecador como os demais.

Se tenho dificuldade para compreender, será que é por que sou orgulhoso? Qual é o centro ao redor do qual gira a minha vida: eu ou os demais? Costumo olhar os demais com ar de superioridade, de desprezo?

Lição: a pessoa que não é humilde tem grandes problemas para conviver com os demais. Aproveitemos o dia de hoje para pedir a Deus que nos ajude a tirar o centro de nós mesmos e viver para amar e servir a Deus e ao próximo.

CARIDADE (18): COMPREENDER (3)

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