ALEGRIA: NO LAR (I)

EVANGELHO – Jo 14, 1-6

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também. Na casa de meu Pai, há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós, e quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver estejais também vós. E para onde eu vou, vós conheceis o caminho”. Tomé disse a Jesus: “Senhor, nós não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” Jesus respondeu: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
O Evangelho de hoje traz umas palavras de Jesus na Última Ceia. Todas as suas palavras, como sempre, são de alegria e de paz. “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também. Na casa do meu Pai há muitas moradas”. Animados por estas palavras vamos continuar meditando na alegria e hoje e amanhã, citando Dom Rafael, vamos refletir na alegria num lugar muitíssimo importante: no nosso lar. Como tornar o nosso lar mais alegre. Vejamos o que diz Dom Rafael.

* * *

Cada lar tem de ser um santuário de paz e de alegria, uma autêntica “Igreja doméstica” (Rom 16, 5), um reflexo do lar de Nazaré, no qual se vive em trato íntimo com o Senhor.

A alegria e a paz não vêm de fora, brotam de dentro, ainda que se viva no último barracão da última favela. Por isso, se um lar não é alegre, não é por faltarem meios econômicos e sobrarem doenças. É simplesmente porque falta espírito cristão. Quando se vive de fé, a alegria transborda no meio da abundância e da carência, da saúde e da doença, do prazer e da dor.

É graças a essa fé que ganhamos forças para, por um lado, eliminar a tristeza e o pessimismo, e, por outro, incentivar o otimismo e o bom humor.

É graças a essa fé que conseguimos, em primeiro lugar, arrancar do lar as ervas daninhas da tristeza, e arrancá-las pela raiz, para que não se reproduzam. “Não compreendes — diz um dos primeiros escritos cristãos, o Pastor de Hermas — que a tristeza é o pior e o mais temível de todos os estados de espírito?” Não há nada pior para corromper um lar e estragar os filhos. Que os pais pensem nisso para superar, se necessário, essa tendência frequente à irritação, à dramatização, à zanga, ao mau gênio, à insegurança, à apreensão agourenta e ao pessimismo; que pensem também, com espírito de responsabilidade, que os angustiados e neuróticos são geralmente filhos de pais tristes e pessimistas.

E depois, é indispensável semear paz, bom humor e otimismo. Sim, é necessário no ambiente do lar saber rir, e fazer os outros rirem; aprender a contar uma boa piada; tirar importância aos pequenos incidentes da vida diária — o carro que enguiçou, o espelho que se quebrou, a sopeira cheia que caiu em cima do tapete, as gripes mensais, as enxaquecas diárias, as reprovações escolares e as brigas fraternas… —; saber olhar todas essas coisas pelo lado positivo, descontraído, amável e… divertido.

Por outro lado, é preciso cuidar dos detalhes: festejar os aniversários com carinho, não dispensar os presentes de Natal e especialmente celebrar com alegria as grandes festas da Igreja… Custa tão pouco lazer um bolo enfeitado com creme no dia da Páscoa, e também no ignorado dia de Pentecostes e em tantos outros… Assim se conseguirá essa atmosfera de paz, de sossego, de equilíbrio, de serenidade e de alegria tão necessária para o desenvolvimento da personalidade dos filhos.

No seu relacionamento conjugal, os esposos têm de saber contornar com habilidade e bom humor os mil incidentes decorrentes do trato mútuo.

Li não há muito este episódio:

O marido chega do escritório com uma pontinha de humor irônica e vai dizendo sem pensar nas consequências: — “Hoje fizeram-me uma pergunta: «Qual a diferença entre o espelho e a mulher?» Sabe qual é a resposta? O espelho reflete sem falar, ao passo que a mulher fala sem refletir”. A mulher “encaixa o golpe” e, depois de um momento de hesitação, responde: — “Eu também sei uma boa pergunta: «Qual a diferença entre um espelho e um marido?» A resposta é esta: O espelho é polido e o marido, nem sempre…” E os dois riram às gargalhadas.

O marido foi indelicado. Há anedotas que machucam. Mas o que salvou a situação nesse caso foi a habilidade da esposa, essa pitada de humor oportuno que desanuviou o ambiente e evitou uma “trovoada de verão”.

Compreende-se que nem todos tenham a presença de espírito dessa senhora, mas todos podem tomar a decisão antecipada de não levar nada pelo lado trágico, de não ser escravos da sua suscetibilidade. Deve haver sempre esse espírito esportivo, descontraído, de quem sabe perder com um sorriso; esse modo de ser light, suave, que sabe levar na brincadeira o que poderia terminar em discussão violenta.

A arte de ser amável — soft — está muito ligada à arte de ser alegre. Há pessoas que não percebem que determinadas palavras, em si inofensivas, se tornam pesadas, acrimoniosas, azedas, por causa do acento com que são pronunciadas ou pelo caráter repetitivo de que se revestem.

Recordo-me de ter lido numa revista de jurisprudência um relato interessante, até divertido. O juiz da vara de família perguntava a um dos cônjuges por que estava solicitando a separação. Este respondeu:

– Porque não suporto duas palavras que ela sempre repete.

O juiz imaginou que seriam dois “palavrões” impronunciáveis, mas arriscou-se a perguntar:

– E que palavras são essas?

E com surpresa ouviu:

– Essas palavras são: sempre e nunca. Não as suporto, de jeito nenhum. Faz anos que ela me diz: “Você sempre fala com a boca cheia, sempre deixa desarrumado o quarto, sempre chega tarde às refeições…; nunca limpa os sapatos quando entra em casa, nunca me cumprimenta quando chega, nunca me dá o dinheiro suficiente…” O senhor juiz há de compreender que uma vida assim é insuportável.

Quem é capaz de dominar a sua língua será capaz de dominar-se a si próprio e de impregnar de serenidade e de alegria o seu lar.

Mas poder tão forte quanto a palavra tem o gesto, a atitude… Um gesto de desprezo, um rosto ranzinza, um silêncio agressivo, a forma de sentar-se, o lugar que se escolhe no carro ou na sala, podem ser, às vezes, considerados afrontosos. Uma senhora dizia-me que sentia indignação ao ver que o marido escolhia sempre a melhor poltrona diante da televisão: achava essa atitude um indício do seu enorme egoísmo…

Sem o perceber, talvez estejamos semeando inquietação, mal-estar ou antipatia com um comportamento inadequado que, no entanto, já se tornou tão habitual que nem sequer reparamos nele.

* * *

Nunca me esqueço do que dizia São Josemaria de que o nosso lar, todo o lar cristão, deve ser luminoso e alegre. Pensemos se eu estou contribuindo para que isto seja uma verdade, que o meu lar seja reflexo do lar de Nazaré, onde reinava, sem nenhuma dúvida, uma alegria sem igual.

ALEGRIA: NO LAR (I)

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