ALEGRIA: ENCONTRÁ-LA REZANDO (II)

EVANGELHO – Jo 15, 26 – 16, 4a

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Quando vier o Defensor que eu vos mandarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim. E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o começo. Eu vos disse estas coisas para que a vossa fé não seja abalada. Expulsar-vos-ão das sinagogas, e virá a hora em que aquele que vos matar julgará estar prestando culto a Deus. Agirão assim, porque não conheceram o Pai, nem a mim. Eu vos digo isto, para que vos lembreis de que eu o disse, quando chegar a hora”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
o Evangelho de hoje continua nos falando do Espírito Santo que será enviado pelo Pai. E ao saber que o Espírito Santo será o nosso Defensor, como nos diz Cristo, isto nos dá uma grande alegria. O que vamos temer se temos o Espírito Santo como nosso advogado, nosso defensor? E esta união com o Espírito Santo aumenta quando conversamos com Deus, quando fazemos oração. E, consequentemente, aumenta a nossa alegria. É desta alegria que o Dom Rafael nos falará hoje dando continuidade à reflexão sobre a alegria.

* * *

A oração supera todas as depressões. Jesus entrou no Horto das Oliveiras abatido, dizendo: A minha alma sente uma tristeza mortal. E saiu de lá fortalecido, perguntando corajosamente: A quem procurais? (Jo 18, 4). E, quando lhe disseram: A Jesus de Nazaré, respondeu: Sou eu. E foi tal a força da sua palavra, após horas seguidas de oração ao Pai, que os soldados caíram por terra.
“Não há nem desespero nem tristeza amarga para quem reza muito”, dizia o converso intelectual Léon Bloy.
A oração cura todas as tristezas. Que é mais difícil curar: a tristeza ou a lepra? O leproso disse ao Senhor: Se queres, podes curar-me (Mt 8, 2). Não disse “se podes”, mas “se queres”. Confiava no poder do Senhor. E o Senhor respondeu-lhe: Quero, sê limpo (Mt 8, 3). E instantaneamente ficou curado.
Mas, além de atrair em nosso favor o poder de Deus, a oração cria em nós a capacidade de aprofundar no sentido da vida e das coisas, de conhecer o motivo das nossas tristezas — o orgulho, a perda da fé, o apego a valores falsos… —, e, em consequência, de enxergar o roteiro dos verdadeiros valores, redescobrindo o brilho da estrela da nossa vocação. E quando nela reparamos — quando voltamos a vislumbrar a pista do “tesouro” —, alegramo-nos também, como os magos, com uma imensa alegria.
A oração tem, por fim, outro aspecto extremamente eficaz, embora pareça mais passivo, porque deixamos toda a iniciativa nas mãos de Deus. Nós, como uma porção de barro nas mãos do oleiro (Jer 18, 6) —, colocamo-nos nas mãos do Artista divino para dizer-lhe: “Senhor, tu sabes o que me convém; corta, acrescenta, purifica, molda, burila, de acordo com os teus desígnios. Sei que queres que eu seja feliz: faze-me, Senhor, feliz do teu jeito”. E Ele atua.
E muito conhecida a história daquele mendigo violinista que, à porta da igreja, tocava cada domingo a mesma peça no seu velho violino, à espera de que lhe lançassem aos pés umas pobres moedas. Um dia, tocava essa sua única música diante de um pequeno auditório que o escutava benignamente. O violino rangia desafinado… Quando terminou, um senhor muito distinto pediu-lhe polidamente o instrumento. Afinou cuidadosamente as cordas e começou a tocar. E fê-lo de tal maneira que em poucos minutos a praça ficou cheia de gente; as notas ecoavam no ar com uma agilidade e vibração arrebatadoras. Foi quando, no meio do silêncio, se ouviu um grito: — “É o meu violino; é o meu violino!” Era o pobre mendigo que bradava entusiasmado, orgulhoso, porque do seu violino saia uma música… Quem tocava era o grande violinista Sarasate, interpretando genialmente uma das suas árias ciganas.
Uma vida triste é uma vida desajustada, desafinada. Deus não nos criou para a tristeza, mas para a alegria. Ele sabe como nos tornar felizes. Coloquemos o pobre violino do nosso coração — talvez desgastado, triste e melancólico — nas mãos do Grande Artista, para que Ele afine as suas cordas enquanto lhe oramos. E o nosso miserável instrumento, que às vezes só sabe interpretar as mesmas lamúrias e queixumes, poderá surpreender-nos com a qualidade das suas notas.
Talvez nos admiremos um dia de que a nossa desgastada carcaça possa produzir tão bela música e gritemos entusiasmados: — “É o meu violino!” É que o Artista é tanto mais genial quanto pior o instrumento de que se serve. E assim acabaremos por reconhecer: — “É o violino de Deus!” Em tuas mãos, Senhor, está a minha sorte (SI 30, 6), diz o Salmo. Confio em Ti; orienta a minha vida; endireita os caminhos tortos da minha tristeza; muda os meus sentimentos; afina as fibras do meu coração…
Mas não nos esqueçamos de Maria na nossa oração. Ela é a “Onipotência suplicante” e, ao mesmo tempo, a “causa da nossa alegria”. Ela nos diz a todos nós, como Nossa Senhora de Guadalupe ao índio Juan Diego, no México, no início da evangelização da América Latina: “Não se perturbe o teu rosto nem o teu coração, não temas… Não estou Eu aqui, Eu que sou a tua mãe? Não estás sob a minha sombra e resguardo? Não sou Eu a fonte da tua alegria? Não estás debaixo do meu manto e em meus braços? Por acaso tens necessidade de alguma outra coisa? Nada te aflija ou te perturbe…” Como podemos continuar tristes depois de recorrer a Maria?
Duvidamos de tudo isto que acabamos de dizer? Não acreditamos nessa receita do Apóstolo Tiago que nos fala da oração como o melhor remédio para a tristeza? Por que não a experimentamos? Por que não fazemos um teste durante uma semana inteira, recolhendo-nos diariamente em oração por quinze minutos, no quarto ou numa igreja?

Lição: Agora já sabemos uma grande receita para ficarmos felizes: rezar, conversar com Deus, pois Deus é a fonte de toda a Alegria. Procuremos colocar em prática este conselho e veremos como nos tornaremos muito mais felizes.

ALEGRIA: ENCONTRÁ-LA REZANDO (II)

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