ESPERANÇA (3): SER JOVEM OU VELHO (2)

EVANGELHO – Jo 20, 11-18

Naquele tempo: Maria estava do lado de fora do túmulo, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se e olhou para dentro do túmulo. Viu, então, dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha sido posto o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. Os anjos perguntaram: “Mulher, por que choras?” Ela respondeu: “Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram”. Tendo dito isto, Maria voltou-se para trás e viu Jesus, de pé. Mas não sabia que era Jesus. Jesus perguntou-lhe: “Mulher, por que choras? A quem procuras?” Pensando que era o jardineiro, Maria disse: “Senhor, se foste tu que o levaste dize-me onde o colocaste, e eu o irei buscar”. Então Jesus disse: “Maria”! Ela voltou-se e exclamou, em hebraico: “Rabuni” (que quer dizer: Mestre). Jesus disse: “Não me segures. Ainda não subi para junto do Pai. Mas vai dizer aos meus irmãos: subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”. Então Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: “Eu vi o Senhor”!, e contou o que Jesus lhe tinha dito.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
Jesus ressuscitado aparece a Maria Madalena e lhe diz: “Mulher, por que choras”? E depois, mostrando que cada um de nós somos únicos para Deus, a chama pelo nome com todo carinho: “Maria!” Como não ter esperança num Deus que ressuscitou e nos chama pelo nome e nos diz para não chorarmos?

Continuando a nossa série sobre a esperança, estamos primeiro refletindo sobre o estado da nossa alma: hoje: somos jovens ou somos velhos? Agora vamos dar alguns exemplos para perceber melhor o estado da nossa alma. Dom Rafael Llano continua no seu livro que estamos citando.

* * *

A ESCLEROSE DO CORAÇÃO

Se a juventude se mede pela capacidade de abrir-se à esperança, deveríamos agora descobrir os motivos pelos quais esta qualidade se pode deteriorar e ainda perder-se.

A primeira causa que aparece à vista é uma atitude errada perante as contrariedades, ou, por outras palavras, a incapacidade de superar e aproveitar em benefício próprio as chamadas “experiências negativas” do passado, provocando com isso uma decepção ou uma inibição com relação ao futuro: essas experiências mal assimiladas chegam a pesar como um fardo que diminui a agilidade para impelir a vida para a frente: psicologicamente, o passado pesa mais do que o futuro; são as experiências que matam as esperanças.

Poderíamos apresentar alguns exemplos. Um estudante que se preparou para o vestibular sem se empenhar a fundo e foi reprovado poderia tirar a conclusão apressada e negativa de que não tem capacidade para atingir um nível universitário. Desanima. Muda esse seu projeto por outras alternativas de nível inferior: empregar-se no comércio, montar um pequeno negócio de rua, trabalhar como vendedor… O que aconteceu? Morreu nele um ideal grande e bonito; uma fibra importante do seu coração – a profissional – esclerosou-se, comprometendo a vibração do entusiasmo profissional. Ficou um pouco mais velho.

Lembro-me agora de uma moça que começou o namoro com uma animação empolgante. Alguns meses depois, o rapaz largou-a inesperadamente. Ficou arrasada. Perdeu o apetite. Já se imaginava convertida numa “solteirona”. Choramingava com facilidade, lembrando a velha música: “Ninguém me ama… ninguém me quer…” Ficou triste. Começou a descuidar o arranjo pessoal. Procurou-me e tive que falar com ela seriamente:

– Se continua desse jeito, realmente vai-se converter numa “titia” inveterada; reavive fortemente na sua oração a esperança: há muitos rapazes que gostariam de namorar você…; saiba oferecer a Deus essa contrariedade.

Aos poucos foi mudando. Voltou a comportar-se normalmente, a arrumar-se bem, a frequentar as reuniões de sempre, a esforçar-se por sorrir… Pouco tempo depois, começou a namorar um rapaz que valia muito mais do que o anterior. Aprendeu uma grande lição: ao renovar a esperança, renovou a juventude. Caso contrário, teria deixado esclerosar essa outra fibra afetiva do coração, a da paixão de namorados.

Outro rapaz – recordo-o muito bem – saiu muito bem disposto de uns dias de retiro espiritual: tentou uma briosa renovação interior, fez propósitos concretos… Mas, poucas semanas depois, reparou que voltava a cair na mesma situação de antes. E desanimou. Pensou que o ideal cristão era válido na teoria, “mas que na prática a teoria é outra”, como comentava ironicamente com desalento.

Que aconteceu nesses casos?

Já o dissemos e voltamos a repeti-lo. Em dois deles, no do estudante e no do rapaz que fez um retiro, aconteceu que, ao desanimarem, se tornaram um pouco mais velhos. Tornaram-se mais velhos porque perderam a coragem e, com ela, a esperança; e assim deixaram de pôr em prática o que, com um pouco mais de perseverança, poderia ter redundado em um feliz sucesso. Os dois envelheceram porque alguma fibra do seu coração morreu para o futuro.

Se esse fenômeno se repete sucessivamente numa mesma pessoa, comprometendo diferentes núcleos da sua personalidade, o seu espírito vai-se anquilosando pouco a pouco e sofrendo um endurecimento progressivo. As fibras da alma, uma a uma – a intelectual, a afetiva, a profissional, a social, a religiosa… – vão ficando paulatinamente esclerosadas…, e assim deparamos com a alma de um velho num corpo de talvez vinte e cinco anos. É a alma enrugada e murcha de um velho caduco: parece uma uva-passa.

Cada vez que uma pessoa aninhasse no seu coração um sentimento de derrota, de incapacidade, de pessimismo, deveria escutar uma voz íntima que lhe dissesse, num murmúrio de confidência: – “Você está ficando velho!” Cada vez que abrigasse e assimilasse um pensamento de auto-compaixão, um complexo de inferioridade, um triste saudosismo, deveria volta a escutar a mesma frase: — “Está ficando velho!”

Cada lamentação, cada queixa que incorporamos negativamente à nossa personalidade é como mais um centímetro que acrescentamos à nossa corcunda incipiente de velhos. Uma corcunda que nos pesa nas costas do passado e que nos impede de correr para os projetos do futuro.

Se queremos ser permanentemente jovens, não podemos carregar esses “pesos mortos” do passado. Também a eles se aplica o que diz Jesus: Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; tu, vem e segue-me (Mt 8, 22).

Lição: as experiências negativas do passado têm me afetado muito? Quanto mais esperança tivermos, menos seremos afetados por elas.

ESPERANÇA (3): SER JOVEM OU VELHO (2)

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