EVANGELHO – Mt 12, 46-50
Naquele tempo: Enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. Alguém disse a Jesus: “Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo”. Jesus perguntou àquele que tinha falado: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?”
E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos.
Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: a festa que comemoramos hoje é a festa do dia em que Nossa Senhora foi apresentada pelos seus pais, São Joaquim e Sant’Ana, a Deus no Templo.
Apoiando-nos apenas nos Evangelhos, não temos nenhuma informação da infância de Nossa Senhora. A festa que celebramos hoje não tem a sua origem no Evangelho, mas numa antiga tradição.
Podemos dizer que hoje é a festa da total entrega de Nossa Senhora a Deus e da sua plena dedicação aos planos divinos. Esta entrega foi feita pelos seus pais logo que ela nasceu, mas tornou-se pessoal quando atingiu o seu uso de razão.
Vendo a entrega tão generosa de Nossa Senhora a Deus, pedimos hoje à nossa Mãe que nos ajude a tornar realidade essa entrega total do nosso coração a Deus. Ela nunca negou nada a Deus, e a sua correspondência à graça e às moções do Espírito Santo foi sempre plena. Devemos aprender dEla a dar-nos por inteiro ao Senhor, com uma plenitude de correspondência generosa no meio dos nossos afazeres cotidianos.
Gostaria de continuar citando umas palavras de D. Rafael Llano falando a este respeito:
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Deus tem para cada um de nós planos magníficos, como um pai tem para cada um dos seus filhos os melhores projetos. Talvez Ele de alguma maneira poderia dizer-nos aquelas palavras da Sagrada Escritura: Eu te escolhi antes da constituição do mundo (Cfr. Ef. l, 4).
Ele — para explicitar-nos esses planos — nos envia os Seus emissários que transmitem a Sua mensagem – acontecimentos, encontros, convites, exemplos, apelos, meditações, livros… – e nós por acaso não os escutamos. Ele tem então que modificar o Seu primeiro projeto. Já não é tão grandioso. Mas este segundo projeto também pode não ser correspondido por nós… e assim, pouco a pouco, vamos perdendo a oportunidade de nos santificar. A história ideal — sermos porventura protagonistas de uma extraordinária aventura — termina convertendo-se numa “historinha” desconexa e medíocre… E sem dar por isso, a grande sinfonia que poderia ter sido a nossa vida a trocamos por uma “marchinha de carnaval”, frívola e superficial.
Lallemant escreve: “Pode dizer-se com verdade que são poucas as pessoas que se mantêm constantemente nos caminhos de Deus. Muitos desviam-se sem cessar. O Espírito Santo os chama com as suas inspirações; mas como não são dóceis, cheios de si mesmos, apegados aos seus sentimentos, autossuficientes na sua própria sabedoria, não se deixam conduzir, só entram raras vezes no caminho e desígnios de Deus… Assim avançam muito pouco, e a morte os surpreende não havendo dado vinte passos, quando teriam podido caminhar dez mil se não tivessem abandonado a direção do Espírito Santo”.
Há pessoas que não chegam à santidade, porque um dia, num determinado momento, não souberam corresponder plenamente à graça divina. Nosso futuro depende, por vezes, de dois ou três sim ou de dois ou três não que deveriam ter sido pronunciados no momento oportuno e não o foram.
A que alturas chegaríamos se nos decidíssemos dar esses grandes passos!; se correspondêssemos a esses projetos divinos! E, no entanto, nos contentamos – por covardia, por comodismo – a dar passos de um pobre anão.
E esse ser atrofiado em que se converte aquele santo em potencial, a partir de uma determinada idade, começa a sentir nostalgia de altura, morre de saudades desse grande amor que deixou perder-se nos pequenos regatos dos comodismos e das compensações gostosas. Ele, talvez, não tomara consciência que o aconchego mesquinho da horizontalidade apática, o luxo e o requinte sensual, o seguro anestesiante do dinheiro fizeram o papel de tesouras trucidantes que vão recortando imperceptivelmente as asas dessa grande águia de altos voos que estava destinada a ser, para converter-se numa vulgar ave de curral, capaz apenas de voos rasteiros. Mas, quando se aproxima a metade da vida, começa a experimentar dores nas asas cortadas e frustrações no coração mutilado… consequências nefastas dessas contínuas infidelidades às inspirações do Espírito Santo… Algo por dentro parece que lhes diz: “Tu tens coração de águia e te contentas em voar como galinha!”
Não contristemos o Espírito Santo! (Cfr. Ef. 4, 30). Não frustremos o nosso destino eterno!
Os primeiros cristãos tinham um aforismo bem expressivo: teme a Jesus que passa e que não volta!
Jesus passou apenas uma vez diante de Filipe para dizer-lhe: Segue-me (Jo. l, 43). E ele O seguiu. Uma vez somente passou diante do jovem rico e lhe disse: Segue-me (Mc. 10, 21). E ele não O seguiu. Um foi um grande apóstolo; o outro um jovem triste que se perdeu na névoa da história e do qual nem conhecemos o nome. É por isso que os primeiros cristãos diziam, teme a Jesus que passa e que não volta, porque nessa passada está Jesus dando talvez uma única oportunidade irrepetível.
Assim como passa Jesus passa o Espírito Santo, e a nenhum dos dois podemos recusar, fechando a porta do coração. Se assim o fizermos, não podemos imaginar o quanto perderemos. Eis que estou à porta, e bato: Se alguém me abrir, com ele terei um doce convívio (Cfr. Ap.3,20).
Temos que ter um santo temor de contristar o Espírito, de que passe ao nosso lado e não O atendamos, de que bata na nossa porta e não a abramos. Abrir a porta… eis o segredo!
Em certa ocasião, numa exposição de um conhecido pintor nordestino, aparecia uma personagem batendo numa porta trancada. Alguém comentou com o autor: “Esqueceu de pintar a maçaneta” – “Não, respondeu sorrindo o artista. A porta é a porta do coração. Só se abre por dentro. E quem está batendo na porta é o Senhor Jesus”.
O dispositivo para abrir a porta é o nosso livre arbítrio, o nosso querer, a nossa determinação… Não podemos deixar a porta do coração fechada, quando é o Espírito Santo quem chama… E muitas vezes não a abrimos por receio de perder a nossa autonomia, a nossa liberdade. Que absurdo ter medo de perder a liberdade ao abrir a porta para Aquele que é a própria Liberdade!
Digamos-Lhe, generosamente, com as expressões de um homem santo: “Vem oh! Santo Espírito, ilumina o meu entendimento, para conhecer os Teus mandados; fortalece o meu coração contra as insídias do meu inimigo; inflama a minha vontade… ouvi a Tua voz, e não quero endurecer-me e resistir dizendo: depois…, amanhã. Agora! Não aconteça que o amanhã me falte.
“Oh! Espírito de verdade e de sabedoria, Espírito de entendimento e de conselho, Espírito de gozo e de paz! Quero o que quiserdes, quero porque queres, quero como quiserdes e quando o quiserdes”.
116 São Josemaría Escrivá, “Oração Manuscrita”, abril, 1934.
Reiteramos: como temer ao Divino Consolador que quer fazer do nosso coração a Sua mais íntima morada!? Como sentir receio de abrir a porta para quem é o manancial de todos os dons e de todas as alegrias!? Escancaremos as portas do coração, dilatemos as válvulas da nossa alma, para que entre em nós como um jato essa divina loucura que transformou e embriagou aos apóstolos no dia de Pentecostes!
– Sim, digamos-Lhe sem receio:
“Vinde, Espírito Criador,
enchei os nossos corações
com Vossos dons celestiais!
Vós sois a fonte viva,
o fogo do amor,
a unção divina e salutar!
A nossa mente iluminai,
queimai de amor o nosso coração
nossa fraqueza encorajai!”.