EVANGELHO – Lc 10, 21-24
Naquele momento, Jesus exultou no Espírito Santo e disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue pelo meu Pai. Ninguém conhece quem é o Filho, a não ser o Pai; e ninguém conhece quem é o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. Jesus voltou-se para os discípulos e disse-lhes em particular: “Felizes os olhos que veem o que vós vedes! Pois eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que estais vendo, e não puderam ver; quiseram ouvir o que estais ouvindo, e não puderam ouvir”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: a Antífona de entrada da missa de hoje diz que “O Senhor virá com poder e majestade e iluminará os olhos dos seus fiéis”.
Jesus iluminará os olhos dos fiéis porque Ele é plenitude da revelação. Como dirá o Evangelho: “Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, a não ser o Pai; e ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Lc 10,22).
Neste sentido, diz o papa Bento XVI: “Jesus não nos diz algo de Deus, não fala simplesmente do Pai, mas é Revelação de Deus, porque é Deus, e assim revela-nos o rosto de Deus”.
Dentro de poucos dias vamos comemorar o nascimento de Jesus. Que hoje seja um dia para agradecer a vinda de Jesus à terra, agradecer que tenha nos revelado verdades tão importantes para nós como o próprio mistério da Santíssima Trindade.
Na semana passada falamos sobre a virtude anexa à caridade de saber ceder. Hoje vamos falar um pouquinho mais dela, pois é uma virtude muito importante para ser vivida no dia-a-dia.
É importante agora refletir um pouco melhor sobre as questões opináveis e em como lidar com a divergência de opiniões. Penso que esta reflexão ajudará vocês.
Se olharmos para uma discussão, veremos que ela pode ser ocasionada por qualquer motivo: por gosto (gosto disso, gosto daquilo), por modo de ser (fala muito, fala pouco, mais carinhoso, menos carinhoso), por modo de fazer as coisas (fazer desse jeito, fazer daquele) etc e por divergência de ponto de vista. Vamos focar neste último motivo e na relação de um casal.
1. Em quaisquer que sejam as divergências, um princípio básico da relação matrimonial é que o primeiro bem a ser procurado, onde todos os outros ficam em segundo lugar, é a unidade, a união entre os cônjuges. Em outras palavras, o princípio básico e fundamental da convivência matrimonial é este: “tudo pela união!”
2. Nas divergências que ocorrem entre os cônjuges, algumas delas, em casos bem raros, diria 1%, estarão em jogo questões gravíssimas.
O que fazer nestes casos?
O normal será conversar calmamente sobre esta questão com o outro cônjuge para ver se há um acordo, se a outra parte consegue ver que aquilo é algo gravíssimo. Que se tenha, se possível, várias conversas sobre este assunto.
Persistindo o impasse, procurar trocar ideia com alguém alheio, idôneo e imparcial para ver se ele também vê aquilo como algo gravíssimo ou se se trata de uma impressão subjetiva.
Sendo algo gravíssimo, de fato, justifica-se, somente nestes casos, ir contra o princípio fundamental “tudo pela união”. Não se pode ceder e o que precisamos fazer é ser firmes e rezar para que o outro cônjuge enxergue esta gravidade.
3. Em outros casos, diria que 4%, as questões não são gravíssimas, mas são graves.
O que fazer nestes casos?
Ter o mesmo procedimento inicial de quando as questões são gravíssimas, procurando também a opinião de uma pessoa alheia, idônea e imparcial.
Depois, permanecendo o impasse, diferentemente das questões gravíssimas, apesar da questão ser grave, deve prevalecer na maior parte das vezes o princípio “tudo pela união”. Agindo assim, um dos dois terá que ceder.
Mas, e se ocorrer o grave mal que previa quem cedeu? Deve-se pensar que sendo apenas grave e não gravíssimo, será um mal tolerável em vista do bem da união. Ex: um exemplo de situação grave é um filho que está correndo sério risco de repetir de ano e o casal diverge se deve mudar de colégio ou não. Suponhamos que a esposa quer que o filho mude de colégio. Em prol da união familiar cede para o marido que quer que o filho continue no colégio. O filho acaba repetindo de ano. É algo sério, grave, mas não é o fim do mundo e, além de tudo, pode ser bom para o filho esta repetência.
4. No restante dos casos, diria 95%, as questões não têm tanta transcendência.
Nestes casos, deve prevalecer, sem nenhuma dúvida o princípio de “tudo pela união” e se costuma dizer que a pessoa melhor, a pessoa mais generosa, deve ceder. Não vale dizer que o outro cônjuge é melhor, é mais generoso. Nós é que temos que assumir ser o cônjuge mais generoso.
* * *
Tendo em vista estas considerações, podemos dizer o seguinte:
1. Não há conflito matrimonial se se sabe ceder em favor do outro. Como há poucas questões gravíssimas que aparecem na vida do casal, a atitude de ceder deve ser muitíssimo frequente. Isto é assim, pois a maior parte das questões são opináveis, pode-se tanto ir para um lado como para o outro.
2. Ver se não há algum defeito que está nos impedindo de ceder: egoísmo (buscar a satisfação do gosto, da vontade), orgulho (gera a tirania, gera o braço de ferro, a má competição com o outro cônjuge), insegurança (gera, entre outros defeitos, o ciúme doentio), apego às coisas terrenas, perfeccionismo (querer que o outro cônjuge seja perfeito, esteja num nível muito alto de virtude), etc.
3. O amor emperra quando ambos ou um dos dois param de ceder.
4. Saber valorizar o pequeno esforço que o outro cônjuge faz para ceder, para melhorar.
Lição: que grande virtude é saber ceder! Lembro-me de um sacerdote que dizia que é melhor errar junto do que acertar sozinho. Pensemos